Para responder aos preceitos pós-modernos de encurtamento de distância entre indivíduos e atender ao fluxo quase supersônico de informações e experiências, redes sociais; para ilustrar nossas dependências mais triviais, como a cibernética, as teias. A partir desse raciocínio inicial, colocando em situações quase antagônicas dois verbetes de mesma semântica – teia e rede – começamos a perceber, aos poucos o tom denso e anti heroico que envolve esta obra do cineasta David Fincher (“Clube da Luta”, “O Curioso Caso de Benjamin Button”), “A Rede Social”(vencedor de 3 Oscar®, disponível em DVD), que narra a história do processo de idealização e criação de uma das ferramentas de comunicação mais revolucionárias em âmbito global – o Facebook, bem como os conflitos que cercavam seu mentor, Mark Zuckerberg.
Adaptado do best-seller “The Accidental Billionaires” de Ben Mezrich, a película direciona-se por si só por trazer o lado ‘b’ da atmosfera acadêmica, dos quartos e (também) submundos de Harvard para retratar as frustrações “socioamorosas” dos então amigos Mark Zuckerberg e o brasileiro Eduardo Saverin, os quais, entre cervejas e fórmulas algorítmicas, começam a desenvolver uma espécie de protótipo do futuro website, o Facemash, no qual eram postadas enquetes que “selecionavam” as garotas mais bonitas da Universidade. Do acalorado frenesi gerado no campus pela brincadeira misógina, vem à luz – de outros, a propósito – o projeto de criar um site de relacionamentos onde fosse possível para os alunos, a priori, compartilharem entre si informações e experiências pessoais de forma instantânea e segura. Era quase um live-blog.
Um plano audacioso, cuja intenção era primeiramente dar vazão a uma rejeição social crônica, e como “reply”, Zuckerberg consegue adicionar aos seus amigos nada menos que a quantidade referente a terceira maior população mundial: 500 milhões. Surgira, aí, a Nova Roma (?): o Facebook. Em seis anos, os paradigmas referentes à organização global são redesenhados; as relações interpessoais permeiam entre o toque desconhecido e a intimidade virtual. Em seis anos, uma nova vertente da cultura é concretizada: a cibernética, agregada à instauração da febre dos sites de relacionamentos e, junto a esta, o despontar do mais jovem bilionário do mundo. Lógico que nesse pacote não deixariam de estar incluída a fama, os processos de roubo intelectual assim como charlatães falidos com o desejo singelo de ter seu lugar ao sol no show bizz.
Um gênio nunca pode ser feliz sozinho; ele precisa de público e spotlights para expressar sua tendência a exclusão e ao desprezo alheio. E é sob essa perspectiva que a trama de Fincher é – acertadamente – construída, sem recorrer a subterfúgios apelativos que por natureza o próprio site já possui. Com exceção da interpretação rasa de alguns atores do elenco, como Justin Timberlake, a (des)construção da narrativa carregada de flashbacks, em consonância com a talentosa (apesar de ainda não maduro o suficiente para extrair o melhor de si) e eloquente atuação de Jesse Eisenberg como Zuckerberg, além de apresentar-se coerente em sua proposta de deixar que a metalinguagem responda as questões suscitadas no filme, esta trabalha a inteligência do espectador a ir muito além da máxima do herói trágico, que busca o isolamento para, paradoxalmente, ser compreendido, aceito e bem-sucedido; Fincher aproxima o personagem em constante insegurança ideológica a uma realidade que a visão linear humana não alcança totalmente: a escolhida da vez foi o mundo virtual (em “Clube da Luta”, por exemplo, esse “duelo do self” é notado através da promoção de duelos gratuitos como válvula de escape para expelir a insatisfação com o sistema Capitalista ). Conceito abstrato ainda não dominado por todos (apesar de muitos fazerem uso deste), mas que apresentam características tão coabitáveis, sociáveis e destrutivas quanto nossa modernidade líquida.
É dessa descoberta da possibilidade de interação que surge a necessidade de um vício.